sábado, 25 de junho de 2011

João da Gruta do Barão

Fez parte da vida dos moradores dessa rua enorme, e também, de muita gente de ruas próximas.


Por muitos anos, no Gruta do Barão trabalhou. Supria os que não podiam comprar a vista nos grandes supermercados que só vendiam a vista. Nem cartão de crédito aceitavam, cheques - apenas mediante trabalhoso cadastro.

Mas na Gruta do Barão cada freguês tinha seu caderno de compras, mensal.
Comprava-se de quase tudo:
arroz, feijão, pó de café...
Era um mini-mercado, mas também era um bar:
Tomava-se cerveja, pinga, cachaça...

E João era o funcionário antigo, de confiança. Trabalhou ali toda a sua vida, Morava quase em frente, bastava atravessar a rua, passar por uma casa, e pronto.

Quantas vezes vi sua mãe descer as 06h da manhã, aquela rampa perigosa, levando na mão um copo de café com leite pra ele, houvesse sol, houvesse chuva, ela não falhava.

Só mãe mesmo.


A vida tocou relativamente mansa para João. Se bem que houve alguns reveses, mas sem consequências: o Gruta do Barão sofrera vários assaltos, umas vezes ele reagiu, mas os caras sempre conseguiram fugir, e sem matá-lo. Parece que ninguém queria mal a ele.

Até que um dia mataram a dona do bar.
Foi num domingo de madrugada, no dia mais frio do ano, em que até os cachorros tinham preguiça de vigiar e tomar conta do lugar. Foram vários tiros. Estava apenas ela em casa, as suas filhas viajaram junto com o esposo. O estranho é que a casa não foi arrombada. E era muito segura, gradeada, e ainda cercada por cães de raça de grande porte.

Isso acabou com o João, que passou a sofrer de depressão.

Um dia alugou um bar, pra gerenciar. Mas o dono do imóvel, depois de alguns meses, pediu de volta.

João acabou indo embora pra sua terra natal, juntamente com sua mãe. Sumiu por uns dez anos.

Até que voltou a Volta Redonda, e ficou uns dias na casa de sua irmã. Voltou sozinho. Estava doente, com problemas do coração e coluna. Mas eu não sabia que estava tão ruim assim. Uma semana depois, sem que eu soubesse, passou mal, foi internado, e morreu dia seguinte - 23/06/2011 - num feriado de Corpus Crhsty. Quando fiquei sabendo, tava em cima da hora, infelizmente nem deu tempo de ir no enterro.

Parece que veio a Volta Redonda se despedir.

4 comentários:

Helena disse...

me lembro de qdo eu era criançar de comprar com a caderneta, infelizmente nem no interior existe mais isso...

Triste fim dessa senhora.

beijos

Nanda disse...

O destino tem dessas coisas... E sabe onde comprava dessa forma: Numa banca de jornais. Meu pai e eu íamos todos os dias, comprávamos jornais; inclusive do RJ e SP;livros, revistas... E meu pai pagava na quinzena.

Diário Virtual disse...

nOSSA... n

e o interior ainda tem essa de comprar com caderneta, bem lá no interior....

;)

Beth disse...

E deve ter sido isso mesmo. Que bom ele ter ido, então, morreu na cidade que amava...
Que história triste né?
Beijo