domingo, 22 de março de 2015

Coélet

O rei montado no seu cavalo segue a frente de seus súditos mais próximos, até que numa estrada deserta,  uma  floresta em volta o faz parar. Salta, dá ordens pra o aguardarem ali, enquanto caminha para o mato, afirmando que lá na natureza selvagem, sozinho e no silêncio, consegue sentir Deus.

Anda por um bom tempo até ter certeza de que finalmente pode passar umas horas sozinho, sem uma multidão a lhe solicitar a todo o momento sua atenção. Aproveita pra relaxar, escutar sons silvestres vindos das copas das árvores, enquanto fica refletindo sobre seus atos e suas consequências, tentando chegar a uma conclusão se são satisfatórios aos olhos do Senhor. Gosta de ser rei, mas se sente um pouco cansado dessa vida, um pensamento de que tudo é vaidades de vaidade começa a penetrar aos poucos no seu íntimo. Pega o pergaminho e passa a escrever:

"Vaidade de vaidades, tudo é vaidade.
Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?
Uma geração vai-se, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre.
...Todos os ribeiros vão para o mar, e contudo o mar não se enche.
...Todas as coisas estão cheias de cansaço; ninguém o pode exprimir."

Fecha o pergaminho e passa a refletir:  Sou rei, mas estou velho, praticamente sem forças. De que me adianta ter mil concubinas ao meu dispor, se minhas forças me abandonaram.? De que me adianta todo o ouro que tenho? Os meus filhos vivem ansiosos, com pressa de que a morte me ache logo, para tomarem o meu poder, que um dia também o perderão para outra geração.

2 comentários:

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Para quem trabalha com comunicação (no caso, eu), um dos grandes obstáculos para o melhor trabalho é a VAIDADE dos envolvidos...Abs, Fabio www.fabiotv.zip.net

Nanda disse...

Já conheci um 'rei' e realmente, é triste. A pessoa tem tudo e ainda assim, está infeliz, cheia de problemas. Mas a vida é assim mesmo; cada um vai lidando como pode com os obstáculos. Feliz Páscoa!