segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Tempos da ditadura


ALFREDO, UMA PESSOA DESCONFIADA POR natureza, ao se aproximar de sua namorada que conversava com duas amigas, notou um certo desconforto nela ao vê-lo, e supôs que estivesse tramando algo contra ele.

Alguns dias depois, com a intenção de tirar a dúvida, telefonou, do quartel em que servia, para Josefine - a sua namorada - e para disfarçar a voz, sufocou-a através de um lenço.

Como eram os anos 70, época da ditadura militar, a desconfiança era generalizada. Desconfiava-se de tudo. Os seus colegas suspeitaram que Alfredo (nome fictício) estivesse mancomunado, de complô, com os comunistas ao vê-lo com o lenço sobre a boca ao telefone. Os seus superiores foram imediatamente comunicados do fato, que internaram Alfredo para alguns exames médicos, sob alegação de que estava visivelmente abatido; doparam-no com instrumentos clínicos, apertaram os testículos com bastante força, tentando tirar, disfarçadamente, algo dele. Mas Alfredo, em seu forte torpor, nada revelou. Nada tinha pra revelar.

OBS: Acredito que esse fato seja verídico, pois pelo tempo que conheço o Alfredo (que me contou essa história), nunca o peguei, nem conheço alguém, que o tenha pego numa mentira. Pode até haver algum exagero na sua interpretação dos fatos.

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